Palavra Pastoral

por Missionário Sinésio Cagliari

Textos

Guerra Espiritual

Estamos em guerra!

A guerra é uma condição de conflito aberto, armado e, freqüentemente, prolongado entre nações, Estados ou partidos. O mal da humanidade tem sido, desde os tempos mais antigos, a perseguição pela guerra quente ou fria, pelo conflito provocado ou não, pela inimizade declarada ou não. A primeira declaração de guerra está registrada em Gênesis 3:15.

As linhas da batalha foram traçadas

O reino da Luz de Deus (Vida e Justiça) contra o reino das trevas de Satanás (morte, roubo e destruição) – João 10:10.

O homem é o agente do avanço temporal de um dos dois reinos. O ser humano é o ponto central da guerra ou conflito. Tanto Deus quanto Satanás desejam a lealdade do homem. Deus, mediante a obediência da fé, e Satanás, através de promessas enganosas de poder, fama e riquezas.

Todos os homens pertencem a um desses dois reinos. Todos, sem exceção, desde a queda de Adão, estão sujeitos ao reino das trevas pelo nascimento físico. Para ser liberto do reino das trevas, o indivíduo deve experimentar novo nascimento espiritual, colocando sua fé em Jesus Cristo como seu Salvador e Senhor, passando das trevas para luz e da morte para vida eterna, tornando-se um cidadão do reino de Deus (Cl 1:13-14).

Reconhecer a que reino pertencemos é essencial para qualquer um de nós. Nossa responsabilidade como cristãos é promover o Reino de Deus. Nosso Comandante nos ordenou em Mateus 28:19 – “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações!” – e em Atos 26:18.

A maioria dos crentes não pensa no mundo como um campo de batalha, mas como um parque de diversões. Por essa razão, tantos irmãos têm sua vida cristã em constante derrota.

Assim também há crentes que, consciente ou inconscientemente, adotam a filosofia do sistema deste mundo (nunca se envolvem com a causa da igreja de Jesus), são apenas crentes nominais, vêm à igreja apenas quando lhes convém ou aos domingos, contribuindo, dessa forma, para o avanço do reino das trevas de Satanás.

Estamos realmente em guerra!

Responda sinceramente: frieza de coração, indiferença, desonestidade, imoralidade, incredulidade, falta de amor para com o próximo, falta de envolvimento com a obra de Deus, falta de disciplina cristã, falta de leitura bíblica e oração são coisas que estão fazendo o reino das trevas ou o de Deus avançar?

No seu estilo de vida, você age como cidadão do reino de Deus ou de Satanás?

É mentira de Satanás quando diz que nós, os crentes, somos normais. Não somos! Deus nos encheu com o seu poder sobrenatural, através do Espirito Santo, e somos o seu povo, temido e chamado com um propósito especial.

Não somos perfeitos, mas devemos viver no plano do Poder Sobrenatural de Deus com um estilo de vida disciplinado e obediente ao senhorio de Jesus Cristo.

Devemos adquirir a iniciativa de ganhar a batalha, vigiar nossos pontos vulneráveis, nos apossarmos urgentemente das promessas da palavra de Deus em II Coríntios 10:3 – “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, sim, poderosas em Deus para destruir fortalezas…” e Lucas 10:19 – “Eis aí, vos dei autoridade sobre todo o poder do inimigo”.

Questão do agressivo conflito espiritual contra o mundo, a carne e o diabo estão se tornando cada vez mais importantes

Satanás e o seu reino lutam incessantemente contra os crentes e contra todo programa de Deus. Os crentes precisam combater o bom combate.

A doutrina bíblica sobre o mundo decaído das trevas merece um estudo dedicado. Ignorar os ardis de Satanás deixa brechas em nossa defesa, através das quais o inimigo deseja avançar. Tenho a convicção de que os crentes precisam saber o que fazer e como proceder em sua responsabilidade para serem “fortalecidos no Senhor e na força do seu poder (Ef 6:10)”.

E eles precisam de ferramentas úteis a sua disposição para se libertarem da opressão dos ataques demoníacos.

A Bíblia diz que enfrentamos apenas três inimigos, os quais procuram derrotar os cristãos na vida espiritual.

É de vital importância para nossa vitória no Senhor Jesus Cristo que saibamos como cada um desses inimigos procura afastar-nos daquilo que é nosso e da nossa posição de vitória. É importante que sejamos capazes de discernir que tipo de tentação ou prova estamos enfrentando em determinada situação.

Quando uma pessoa crê no Senhor Jesus Cristo, seu relacionamento com o mundo físico, espiritual, mental e emocional passa por uma mudança radical. Ele é uma nova criatura e tudo passa a ser novo. Por causa desse novo relacionamento com Deus, todos os crentes são alvos especiais do ataque dos mesmos inimigos que se opuseram e atacaram a pessoa do Senhor Jesus Cristo.

Com tal plano de ataque contra nós, devemos conhecer tudo o que for possível sobre o sistema de defesa disponível e nossas armas de guerra.

O crente que não se familiarizar com o combate espiritual será, logicamente, um fraco soldado de Jesus Cristo.

Os crentes se encontram sob um ataque concentrado.

O mundo, a carne e o diabo têm de ser enfrentado e derrotado pela vitória que foi obtida para nós através de nosso Senhor Jesus Cristo.

A palavra de Deus também precisa ser sistematicamente lida e estudada no que refere aos nossos inimigos para que obtenhamos o discernimento bíblico sobre como Satanás opera, de onde veio, quem é ele e como fornece fortes armas para o conflito espiritual.

O problema do mal Antes de abordarmos o assunto sobre o mal, vamos falar um pouco sobre os temas fundamentais que a Bíblia fala: as doutrinas.

Elas se dividem em três agrupamentos, a saber:

  • 1- Doutrinas mais fáceis: Soteriologia (Fé, arrependimento, conversão, justificação, santificação, regeneração, glorificação, e oração);
  • 2- Doutrinas menos fáceis: Dons espirituais;
  • 3- Doutrinas difíceis: Escatologia

Existem também na Bíblia três tipos de profecias:

  • 1- Cumpriu-se: passado
  • 2- Cumprindo-se: presente
  • 3- Cumprirá-se: futuro

Há três povos distintos:

  • 1- Judeu (I Co 10:32)
  • 2- Gentio
  • 3- Igreja

Há quatro tipos de linguagens bíblicas:

  • 1- Literal
  • 2- Alegórica
  • 3- Figurada
  • 4- Profética

Existem três céus:

  • 1- Atmosférico
  • 2- Estelar
  • 3- Céu dos céus

Há nada menos que quatro termos gregos empregados no Novo Testamento que se referem ao mundo:

  • 1- Ge – terra, campo, chão etc. No sentido puramente físico, contraste a terra com os céus.
  • 2- Oikoumene – é um particípio derivado das palavras casa, habitar; significa, portanto, a terra habitada (Mt 24:14, Is 2:1 – onde se refere ao império romano como o mundo conhecido, em Hebreus 2:5 – refere-se ao mundo vindouro que será habitado).
  • 3- Aion – significa essencialmente “Tempo”, mas por extensão inclui também o espaço. Indica tudo que existe sob o condicionamento do tempo e do espaço. Nada deixa de ter também um aspecto ético-espiritual debaixo do poder do príncipe das trevas (Ef 2:2, Gl 1:4, II Co 4:4).
  • 4- Kosmos – originalmente, significa o mundo físico apontando de modo especial para a sua ordem ou arranjo (I Pe 3:3, onde significa uma aparência agradável por estar arrumada, uma boa combinação de vestuário – Himation Kosmos). Aponta para o universo material como um sistema que Deus criou segundo os seus propósitos (Mt 13:35 – Jo 17:5 – At 17:24 – Fp 2:15). Também transmite a idéia do universo como habitação dos homens (Jo 16:21 – Jo 3:17) daí veio a significar a humanidade em sua totalidade (Jo 1:29 – 3:16 – 4:42).

A tentação de Jesus

A tentação de Jesus leva-nos a pensar sobre um tema básico na Bíblia, o problema do mal.

Antes de analisar mais o esboço acima, vejamos várias escrituras e meditemos sobre o problema.

Mt 6:1-13 – O Pai Nosso se divide em 5 pontos:

  • 1-A Santidade do nome de Deus (v 9);
  • 2- A realização da vontade de Deus na terra (v 10);
  • 3- Nossa necessidade material – o pão diário (v 11);
  • 4- Nossa necessidade espiritual – perdão (v 12);
  • 5- O problema do mal ( v 13).

Então, essa oração, que Jesus ensinou e que é tão curta, não deixa de concluir esse ponto sobre o problema do mal. O que é o mal? É uma pessoa, a pessoa do maligno.

O problema do mal

Foi a glória e o poder do mundo que o diabo ofereceu a Jesus após ter lhe mostrado “todos os reinos do mundo” (Lc 4:5). O fato de Satanás poder dizer: “toda esta autoridade e a glória destes reinos dou a quem quiser” (v 6) mostra como o mundo se tornou o instrumento de sua rebelião contra Deus. Por ser o deus deste século (II Cr 4:4), entendemos que os que se recusam a ter Deus como soberano se submetem, consciente ou inconsciente, aos desígnios do demônio. João afirma que “O mundo inteiro jaz no maligno” (I Jo 5:19); como príncipe deste mundo, Satanás espalha nele sua influência (Jo 12:31 – 14:30 – 16:11); ele anima o espírito do anticristo… presentemente já está o mundo (I Jo 4:3), de maneira que, na realidade, o reino das trevas composto dos súditos humanos e espirituais do demônio, organiza e sustenta a oposição contra Cristo e sua Igreja.

II Sm 24:1 – “tornou-se a ira do Senhor a acender-se contra os israelitas e incitou a Davi contra ele”. I Cr 21:1 – “então Satanás se levantou contra Israel e incitou a Davi a levantar o censo de Israel”. Compare esses dois versículos e decifre este mistério: Deus ou Satanás incitou a Davi a levantar o censo de Israel?

I Sm 16:23 – “E sucedia que, quando o espírito maligno da parte de Deus vinha sobre Saul…”, temos outro enigma aqui: Deus ou Satanás enviou o espírito maligno sobre Saul?

Is 14:12-15 – “como caíste do céu ó estrela da manhã”, Ap 22:16 – “Eu sou a raiz e a geração de Davi, a brilhante estrela da manhã”, temos aqui um terceiro exemplo que mostra o mistério; a primeira passagem chama Satanás de estrela da manhã e a segunda dá essa designação a Jesus.

Quando se referiu a Jesus como “Advogado” e ao Espírito como “Consolador”, João usou a mesma palavra “paracleto” no original; então enquanto Jesus é nosso advogado e consolador (pois Jesus é o Espírito). Satanás é nosso acusador e adversário.

O problema do mal começa em Gênesis e termina no Apocalipse. O mal, propriamente dito, aparece só no capitulo 3 de Gênesis (Gn 1:1 -2:3 descreve a história sobre a criação do mundo em sete dias, e o restante do capítulo 2 fala sobre a formação do homem e da mulher e as duas árvores: da vida e do conhecimento do bem e do mal. Dessa forma, tudo está preparado para o aparecimento desse personagem misterioso do mal.

Em Gn 3, o mal está ligado com a pessoa de Satanás; astutamente ele apareceu em forma de serpente para enganar o primeiro casal. Ele não é o primeiro animal, mas um espírito sem corpo para se manifestar. Depois da tentação de Satanás ao primeiro casal, começaram todos os problemas do homem; o mal entrou neste mundo causando mentira, ódio, homicídio e guerra (Jo 8:44). Então o problema do mal é um problema fundamental.

Vimos o problema do mal no início e no fim da Bíblia, mas, curiosamente, no meio dela há um livro que trata especialmente desse assunto – o livro de Jó. Nele temos a história de um homem justo, temente a Deus, que precisou passar por tremendas tentações e sofrimentos. Logo no início do livro, a personagem misteriosa do mal se apresenta junto com os anjos diante do Senhor; ele recebe a permissão de Deus para provar Jó de todas as maneiras, menos com a morte; e no resto do livro temos a história da provação e de como Jó venceu.

A psicologia da tentação

Este assunto da tentação é muito vasto e torna difícil a organização deste estudo de forma resumida. A presença do mal, a personagem do mal, permeia a Bíblia inteira, todo o plano de Deus. Nem sabemos exatamente como o mal surgiu (Is 14 e Ez 28), mas é uma personagem real que precisamos enfrentar.

Estamos falando sobre tudo isso por causa da tentação de Jesus. A tentação de Jesus foi essencial para a libertação do seu ministério, foi um drama que envolveu grandes conseqüências para toda a humanidade, porque Ele venceu o inimigo. Precisamos entender o problema do mal, porque a tentação de Jesus envolveu a luta com esse problema.

Lucas fala que o diabo se afastou de Jesus até uma ocasião oportuna (Lc 4:13). Quando ele voltou? Talvez em Getsêmani, quando Jesus suou gotas como de sangue e onde sua vontade como homem entrou em choque com a vontade do Pai. Lá, Jesus falou com os discípulos para orarem e vigiarem para não entrarem em tentação (Lc 22:46).

Dt 6:16 – “não tentarás ao Senhor teu Deus como o tentaste em Massá”. Jesus citou esta passagem para Satanás quando ele o mandou atirar-se do pináculo do templo para provar que era Filho de Deus (Lc 4:9-12). Mas o que aconteceu em Massá?

Êx 17:1,2,7 – Massá significava provação, porque quando não tinham água no deserto, os filhos de Israel contenderam ou tentaram ao Senhor. Eles duvidaram da presença de Deus no meio deles dizendo: “está o Senhor no meio de nós ou não?” (v 7). Dessa forma, eles desafiaram a Deus.

Hb 3:7-12 – “… não endureçais os vossos corações como foi na provocação do dia da tentação no deserto…”. Note que as palavras “provocação” e “tentação” vêm juntas, pois são ligadas. Tentar a Deus, duvidar, desafiar, discutir com Ele é provocá-lo. Essa passagem dá dois motivos por que os filhos de Israel tentaram a Deus: “não conheceram os caminhos de Deus (v 10)”, não confiaram nEle por terem “um coração perverso de incredulidade (v 12)”; então, se provocamos a Deus, é porque não o conhecemos e nem cremos nEle.

Em Tg 1:2-4 uma tradução fala “tentação” e outra fala “provocação”, mas no original é a mesma palavra. Tiago diz que devemos encarar a tentação com alegria. Ele tem um ponto de vista diferente de Pedro, que diz que as tentações nos trazem tristezas (I Pe 1:5-7 – tradução corrigida). Talvez seja a questão do temperamento, uns se alegram e outros se entristecem, mas no final do processo há júbilo e glória. Porém, por que Tiago nos exorta a ter alegria na provação? Porque através dela nossa fé é provada (cremos ou duvidamos de Deus) e, se passamos no teste, a perseverança é formada em nós. Então, o oposto de tentação ou incredulidade é a fé que persevera.

Tiago descreve o processo ou a psicologia da tentação (Tg 1:12-17), dizendo que Deus não tenta ninguém, mas é a concupiscência do coração do homem que o tenta e o leva a pecar. Isso contradiz Gênesis 22:1, que diz que Deus tentou Abraão. Afinal, Deus tenta ou não?. Podemos resolver essa controvérsia entendendo que em Gênesis 22 a palavra “tentar” foi usada numa conotação diferente, enquanto que, nos exemplos que temos visto (Adão e Eva, Davi, Jó, os filhos de Israel), a tentação está ligada à presença de Satanás ou do pecado; isso não acontece com Abraão. Deus não provou Abraão por causa do pecado, mas para testar sua confiança nEle. Abraão passou na prova com nota 100 e, dessa forma, se tornou exemplo para nós. Tiago diz que Deus não tenta ninguém, nem é tentado pelo mal, porque Deus não mexe com pecado. Ele é o Pai das Luzes que não mexe com sombras (v 17). Quando a tentação envolve pecado, Deus usa Satanás como seu agente e este usa a cobiça do homem para tentá-lo.

Em Ap 3:10, o problema da tentação não é individual e nem só da igreja, mas é algo que começou lá no Éden, permeia toda a história e alcançará um clímax no fim, quando chega a hora da tentação sobre o mundo inteiro. O problema do mal está incluído no propósito eterno de Deus. Uma personagem misteriosa apareceu no início para tentar ao homem e provocar a sua queda. Deus enviou Jesus para morrer por nossos pecados e nos levar de volta a Ele. Se perseverarmos na palavra de Cristo, seremos guardados dessa tentação final que virá sobre toda a terra.

II Pe 2:9 – essa tentação que virá sobre toda a terra vai determinar o destino de cada um, vai separar as ovelhas e os cabritos. Deus vai livrar os que são seus e vai reservar os injustos para o dia do juízo. Temos de ter uma visão geral do problema e entender que, através da história, o maligno vem preparando suas armas para tentar o mundo inteiro. A televisão , por exemplo, é uma arma que trabalha a mente das pessoas, levantando a “aldeia global” de Satanás de acordo com seus princípios. A Igreja do Senhor precisa entender o plano de Deus e se preparar para esse dia, fugindo do sistema deste mundo e armando também sua estratégia para enfrentar neste dia a tentação mundial.

I Cr 10:1-13 – medite nessa passagem, especialmente nos versículos 12 e 13 (Rm 6:12-13 e Ef 10:13).

Mt 6:9-13 – vimos que essa oração tem cinco pontos, que o último ponto é sobre o problema do mal e que precisamos estar preparados para enfrentá-lo. Bob Munford deu a seguinte versão para o versículo 6: “que não haja nada no seu coração que precise ser posto à prova, e, se houver, guarda-me do maligno”; então se nosso coração precisa ser provado (e geralmente precisa), Deus vai permitir que entremos em tentação. Nesse caso, precisamos orar para sermos guardados do maligno.

Mt 26:41 – “vigiai e orai para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade está pronto, mas a carne é fraca”. A tentação é uma área perigosa, pois podemos cair nas mãos do maligno. Por que Jesus nos exortou a orar e vigiar para não cairmos em tentação? Por que devemos orar e vigiar? Porque pela oração entramos em comunhão com Deus e recebemos fé e confiança, que são o contrário de tentação e incredulidade. Vigiar é ter discernimento do que está acontecendo. Muitas vezes, precisamos discernir se estamos orando certo, ou se é hora de parar de orar e começar a agir. Orando e vigiando, entramos no Espírito e, andando no Espírito, não vamos dar lugar à carne e nem entrar em tentação.

A tentação ocorreu em três cenas: no deserto, num lugar elevado e no pináculo do templo. Ao que parece, Jesus ficou no deserto, mas foi levado aos outros lugares no espírito. Em nenhuma ocasião, Jesus argumentou com Satanás usando recurso próprio, apenas citou a palavra escrita (o livro de Deuteronômio) e só. No fim, Satanás, como louco que é, tentou usar a mesma arma citando uma passagem do Salmo 91, quis mostrar que também sabia a Bíblia de Co. Mesmo assim, Jesus não perdeu tempo discutindo com ele sobre o uso errado do versículo no contexto ou coisa semelhante, mas citou um outro versículo de Deuteronômio e encerrou o assunto.

A primeira tentação foi na área do corpo; ao oferecer pão (algo material), Satanás apelou para uma necessidade física de Jesus. Há uma filosofia, predominante hoje, que afirma que tudo será resolvido se não faltar pão, emprego ou dinheiro para ninguém. Esse era o alvo do socialismo (igualdade de pão para todos), mas o capitalismo é materialista também. O capitalismo é melhor no sentido que dá mais liberdade para buscar a Deus, mas nenhum dos dois sistemas é a solução para o homem; ambos buscam as coisas materiais em primeiro lugar. Então essa tentação envolvia todo esse sistema materialista e também a idéia de que o homem é basicamente um animal e só precisa comer. Mas ao citar Deuteronômio 8:3, Jesus estava dizendo: “não, o homem não é animal, é espiritual e precisa em primeiro lugar do reino de Deus, e todas as outras coisas vos serão acrescentada” (Mt 6:33). Portanto, ao vencer essa tentação, Jesus negou o materialismo e afirmou a necessidade de viver pela palavra de Deus.

A segunda tentação foi na área da alma: O diabo mostrou-lhe todos os reinos do mundo e disse: “dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos porque ele me foi entregue e dou a quem quiser” (v 6). Somente no evangelho de Lucas encontramos essas palavras. Aqui ele foi mais completo que Mateus. Por outro lado, o versículo 6 mostra a extensão do domínio de Satanás como príncipe deste mundo e como pode dar autoridade a quem ele quiser.

Essa tentação envolvia a ordem política, social e cultural da humanidade. Satanás ofereceu a Jesus autoridade sobre os reinos do mundo, mas Jesus teria que entrar em acordo com ele, fazendo certas concessões e transigências. Ele disse: “se você trair seu Pai e for leal a mim, vou deixar você governar sobre todos esses reinos”. Satanás queria que Jesus passasse para o seu lado para estabelecer uma ordem política e social sobre a terra de acordo com os seus princípios. Na verdade, Satanás queria que Jesus se unisse a ele para formar um sistema mundial que fosse contra a soberania de Deus na terra. O plano de Deus é governar a terra através do homem e Jesus veio para demonstrar o reino de Deus na prática. Satanás lhe ofereceu autoridade e poder, visando conseguir sua lealdade e, assim, frustar o plano de Deus de formar seu reino na terra. Jesus recusou sete tipos de união sem Deus, pois sua lealdade, adoração e serviço eram totalmente para Ele.

A terceira tentação foi na área do espírito: Falando a Jesus para atirar-se do pináculo do templo, Satanás o tentou a conseguir domínio, influência e fama através do sensacionalismo e poder sobrenatural. Isso é a base da religião falsa. Hoje há muitos movimentos que enfatizam sinais e milagres para atrair multidões. Imagine o que aconteceria se Jesus saltasse do templo, as pessoas ficariam maravilhadas ao vê-lo sendo sustentado por anjos e iriam aclamá-lo Deus, o rei. Mas Jesus recusou esse caminho “fácil” de conseguir posição e poder, para passar pelo caminho da cruz.

Além de tentar Jesus a formar uma religião falsa na base das coisas espetaculares, Satanás o tentou provar seu relacionamento com Deus. Se saltasse do templo, Jesus estaria mostrando que sua confiança em Deus não era perfeita, por isso a resposta de Jesus foi: “não tentarás ao Senhor teu Deus”. Jesus sabia que Deus era seu Pai e que não precisava ser colocado à prova. Se colocamos Deus à prova, estamos provando que não confiamos nEle e estamos abertos para sermos tentados.

Então Jesus venceu a tentação nas três áreas do seu ser – corpo, alma e espírito. Essa vitória de Jesus não foi pessoal, mas estamos incluídos nela, porque Ele venceu sobre o mal. Agora nós podemos vencer também.

O mundo, a carne e o diabo

A Igreja se confronta com um desafio de proporções gigantescas. O mundanismo, a carnalidade e o demônio conquistam a Igreja de forma tão sutil e paulatina que as defesas são incapazes. Para vencer tais forças do mal, os cristãos precisam conhecer profundamente esses inimigos e criar planos para se manterem incontaminados.

Vencer o mundo apenas pela fuga não resolve o problema, uma vez que a defesa sem ataque implica em derrota final.

Os vícios carnais se limitam ao sexo, bebidas e drogas. A estratégia que conduz à vitória está concentrada no vocabulário “não” fumo, “não” bebo e “não” me associo com os que assim procedem.

À luz da Bíblia, nenhuma dessas linhas de defesa resistirá à Tríplice investida das trevas; além do mais, o exército de Deus deve avançar atacando, encerrar-se atrás das barricadas seria apenas um paliativo e nunca uma estratégia única.

Sem a renovação do “primeiro amor”, a conservação das tradições e costumes manterá a casaca sem revelar a nojenta decomposição atrás dos bastidores. Se deixamos de reconhecer os sinais do mundo dentro da igreja e a carnalidade envenenando nosso próprio caráter, como pretendemos conquistá-lo? Se as ciladas penetram facilmente nos corações e afetam as decisões dos membros do Corpo de Cristo, assim como um gato que prende o ratinho, como escaparemos no dia mau que vem chegando (Ef 6:13)?

A igreja e os seus congregados serão “mais que vencedores” se deixarem que o Espírito Santo os encha. O Espírito Santo foi concedido para transformar discípulos medrosos em testemunhas invencíveis (At 1:8). Cheios Dele, nenhum inimigo foi capaz de vencê-los (At 2:4). O paracleto divino não se engana nem deixa de reconhecer as células cancerosas do mundanismo que infectam os órgãos vitais da igreja. O Espírito Santo não luta apenas contra a carne (Gl 5:17), mas identifica as marcas da natureza adâmica para que possamos mortificá-la. O antagonista do diabo é o Espírito de Deus, porque Ele é o maior (I Jo 4:4) e não suscetível ao engano.

A história espiritual do Brasil – a nossa herança religiosa

C. S. Lewis nos adverte contra dois extremos: uma preocupação exagerada como o demônio e sua força e uma ignorância total. Evitemos ignorá-lo na descrença que interpreta sua influência maléfica como um acaso natural, ou explicar tudo que é desagradável ou ruim como conseqüências direta da sua atividade.

Sempre alerta e nunca abaixar a guarda, só assim o lutador poderá evitar o golpe fatal. Ninguém poderá esperar que Satanás tire folga ou que se afaste num feriado.

A partir de agora, vamos considerar um sistema mundano: o sistema religioso. A religião pretende religar o homem a Deus, mas, na realidade, é o sistema que afasta o homem, pois o engana dizendo que todos os caminhos levam a Deus.

A nossa luta é contra o mundo, a carne e o diabo – Efésios 2:1-3

  • 1- O Catolicismo Medieval Português: os portugueses trouxeram consigo a sua religião, misturada com magia, feitiçaria, satanismo e lirismo dos mouros.
  • 2- O Culto aos antepassados: o indígena brasileiro convivia com os espíritos dos que haviam partido nos seus afazeres do dia a dia. Deles recebiam orientação, inspiração e conselhos. Ele vivia atormentado por esses espíritos inescrupulosos.
  • 3- Os Orixás Africanos: chegaram ao Brasil através dos escravos. Muitos deles eram descendentes da nobreza e de família sacerdotal. O sincretismo entre o Catolicismo e as religiões africanas: devido às semelhanças entre as duas práticas religiosas no que se refere à sua pompa, colorido, celebração, muita música e muita dança, o resultado dele são as religiões afro-brasileiras, dentre as quais destaca-se o Candomblé.
  • 4- O Kardecismo da França: com facilidade o brasileiro adotou o alto Espiritismo, sendo a França modelo para tudo no Brasil, na sua racionalidade e iluminismo. Os governantes e os intelectuais foram os primeiros a adotarem esse tipo de espiritismo. O kardecismo no meio intelectual e o candomblé na classe pobre e desprezada finalmente se encontram e surge a Umbanda. Ela é considerada uma religião endógena, própria da terra. Por isso, ela é considerada também uma religião nacional.

As práticas religiosas no Brasil

  • 1- 65% da população brasileira é considerada, praticamente, de algum tipo de espiritismo: leitura de mãos, adivinhação, consulta aos mortos, leitura das nuvens, de folhas de chá, leitura de vísceras de animais, horóscopo, jogo dos búzios, cartas, umbanda, candomblé, kardecismo, pajelança, incorporação de espíritos, consultar cambono, receber defumação, oferecer sacrifício e oferendas às entidades (nas águas, nas cachoeiras, nas matas e nas encruzilhadas), acender velas aos santos e aos mortos.
  • 2- Poder da mente, curso de Parapsicologia, Pró-Vida, Silva Mind, Seicho-no-iê, viagem astral, estado mental alfa, chacras, yoga, sintonia, numerologia, astrologia, cristais, pirâmides, varetas, mandala, I-ching, massagem energética, maçonaria, rosacrucianismo, grupo dos bruxos de Hilarion, Nova Era, etc.

O que diz a Palavra de Deus para tais coisas?

Deus condena tais coisas veementemente (Dt 20:16-18). Deus condena o espiritismo com a pena de morte (Lv 20:6).

Com tais práticas, o homem dá direito legal ao diabo de tomar conta de sua vida. Exemplos: 1- casamentos ilícitos; 2- destruição da sorte do outro; 3- roubo da felicidade ou da fortuna do outro; 4- no meio dos crentes: o uso poder para manipular e fazer politicagens, “assumindo” o lugar do Espírito Santo.

Exemplo: Os apóstolos jejuavam e oravam antes de realizar a eleição dos presbíteros (Atos 14) – Jesus e a vigília (Lc 6:12). Temos de aprender a fazer as coisas no nível do espírito e não da alma. Outra prática, não menos comprometida com os poderes das trevas, é a idolatria.

Idolatria

O homem necessita ter a quem adorar. Deus o criou para Sua própria adoração. Negando a Deus, ele se torna idólatra com todas as outras conseqüências. A idolatria pode ser expressa através das religiões, pessoas, materialismo (em várias dimensões), Ministério, o Eu e seus desdobramentos.

Deus condena a idolatria

  • 1- Nos dez mandamentos (Êx 20:2 – Dt 4:12-20);
  • 2- Deus proíbe esculpir imagens, proíbe levantar os olhos para os céus, para não ser seduzido pelo exército dos céus (Dt 7:1-11);
  • 3- Deus proíbe aliança com o povo da terra de Canaã;
  • 4- Proíbe casamentos mistos, para evitar idolatria;
  • 5- Os livros de Crônicas e Reis são relatos da luta de Deus com o seu povo ao longo da sua história, versando sobre a questão da idolatria e do espiritismo (os reis que faziam o que era reto e os reis que faziam o que era mau – os deuses estrangeiros não passavam de ídolos: ídolos são demônios Sl 96:5 (LXX – Septuaginta);
  • 6- Fugi da idolatria (I Cr 10:14 em diante);
  • 7- Aqueles que levantam o ídolo no coração (Ez 14:1-11).

Os ídolos se tornam em moradas incontestáveis de demônios (o homem se assemelha ao objeto da sua adoração) – Romanos 1:18.

Exemplos na história da civilização:

  • 1- O Antigo Egito (Gn 7: 10-12);
  • 2- Os Citas;
  • 3- Os Efésios (Atos 19 – Diana);
  • 4- Os Japoneses – Buda e seus diversos nomes de deuses.

Quem são os deuses no povo brasileiro?

  • 1- Vivemos um caos econômico com milhares de pessoas passando fome, apesar de sermos o quarto produtor de alimentos no mundo e a nona economia;
  • 2- Convivemos com pobreza e com miséria, apesar de sermos a sétima potência econômica no mundo;
  • 3- Moloque sobrevive como deus que exige extermínio e sacrifício de crianças. (Paraná);
  • 4- 32 milhões de crianças em miséria e abandonadas;
  • 5- O nosso País é campeão de aborto, adultério e sexo antes do casamento.

 

Apresentação do Evangelho

A apresentação do evangelho é assunto sempre importante, pelas consequências eternas que dependem da nossa atitude para com o evangelho. Para mim não há necessidade de argumentar que é especialmente importante nos dias atuais por duas razões: a apostasia geral, o fracasso da parte das igrejas em não apresentarem o evangelho de Jesus do modo como deveria ser apresentado; e a consequente impiedade e o consumado materialismo que crescentemente, caracterizam a vida do povo. Também é um assunto de urgente importância, em face da natureza dos tempos pelos quais estamos passando. A vida é sempre incerta, mas é excepcionalmente incerta hoje. (…)

Que privilégio maravilhoso o Senhor Deus Todo-poderoso confiar a homens como nós esta obra de propagar e pregar o evangelho! Ao mesmo tempo é uma responsabilidade tremenda. (…)

Este assunto é tão amplo e importante que, obviamente, é impossível tratar dele adequadamente numa só preleção. Tudo o que posso fazer é selecionar o que considero como alguns dos mais importantes princípios relacionados com ele; procurarei ser tão prático quanto poder. (…)

Agora se me fosse pedido falar sobre este assunto em certos círculos, meu primeiro trabalho seria tentar definir a natureza do evangelho, e eu iria adiante e perguntaria: o que é o evangelho? Em muitos círculos as pessoas se extraviaram; caíram em heresias; pregam um evangelho que, para nós, não é evangelho nenhum. Pode ser que alguns de vocês perguntem: “Será necessário gastar tanto tempo no estudo da apresentação do evangelho? Não seria uma coisa que podemos considerar ponto pacífico? Se o homem crê no evangelho, ele está incumbido de apresentá-lo do jeito certo. Se um homem é ortodoxo e crê nas coisas certas, a sua aplicação do que ele crê é algo que cuidará de si mesmo”. Isso, para mim é um erro muito grave; e quem quer que seja tentado a falar assim, não somente ignora a sua própria fraqueza, porém, ainda mais, ignora o adversário das nossa almas, que está sempre tentando frustrar a obra de Deus.

(…) Tomo como prova dois exemplos: Há, por exemplo, homens que parecem evangélicos em sua crença e doutrina; são perfeitamente ortodoxos em sua fé e, todavia, a obra que realizam é completamente infrutífera. Jamais conseguem quaisquer resultados; nunca ficam sabendo de algum convertido resultante do seu trabalho e do seu ministério. Eles são tão firmes quanto você, entretanto o ministério deles não leva a nada. Por outro lado – e esta é a minha Segunda prova – há aqueles que parecem conseguir resultados fenomenais do seu trabalho e dos seus esforços. Empreendem uma campanha, ou pregam um sermão e, como resultado, há numerosas decisões por Cristo, ou o que eles chamam de “conversões”. Contudo, muitos desses resultados não duram; não são permanentes; são apenas de natureza temporária ou passageira. Qual a explicação desses dois casos? (…) Há uma lacuna entre o que o homem crê e o que ele apresenta em seu ensino ou pregação. O perigo quanto ao primeiro tipo é o de apenas falar ACERCA do evangelho, exulta nele; porém, em vez de pregar o evangelho, ele o elogia, diz coisas maravilhosas sobre ele. O tempo todo fica simplesmente falando sobre o evangelho, em vez de apresentar o evangelho. O resultado é que, embora o homem seja altamente ortodoxo e firme, o seu ministério não mostra resultado nenhum.

O perigo quanto ao segundo homem é o de interessar-se tanto e preocupar-se tanto pela aplicação do evangelho e pela obtenção de resultados, que deixa abrir-se uma brecha entre o que ele está apresentando (aquilo que ele crê) e a concreta obtenção dos resultados propriamente dito. Como eu disse, não basta você crer na verdade; você deve ter o cuidado de aplicar da maneira certa o que você crê.

Métodos de Estudo

Há dois meios principais pelos quais podemos estudar este assunto da apresentação do evangelho. O primeiro é estudar a Bíblia mesma, com especial referência a Atos dos apóstolos e às Epístolas do Novo Testamento. Isso deve ser posto em primeiro lugar, se queremos saber como se faz este trabalho. Devemos retornar ao nosso livro-texto, a Bíblia. Devemos retornar ao modelo primitivo, à norma, ao padrão. Em Atos, e nas Epístolas é-nos dito, uma vez por todas, o que é a Igreja Cristã e como é, e como se deve realizar a sua obra. Devemos sempre certificar-nos de que os nosso métodos estão em harmonia com o ensino do Novo Testamento.

O segundo método é suplementar; é fazer um estudo da história da Igreja Cristã subsequente aos tempos do Novo Testamento. Podemos concentrar-nos especialmente na história dos avivamentos e dos grandes despertamentos espirituais; e também podemos ler biografias dos homens que no passado foram grandemente honrados por Deus em sua apresentação do evangelho. Mas devemos notar aqui um princípio da maior importância. Quando digo que é bom fazer um retrospecto e ler a história do passado e as biografias de grandes homens que Deus usou no passado, espero que esteja claro em nossas mentes que precisamos retornar para além dos últimos 100 anos. Vejo muitos bons evangélicos que parecem ser de opinião que não houve nenhum real labor evangelístico até por volta de 1870. Há os que parecem pensar que não se conheceu obra evangelística antes do surgimento de Moody. Conquanto demos graças a Deus pela gloriosa obra realizada nos últimos 100 anos, eu os conclamo a fazerem um estudo completo da história pretérita da Igreja. Vão até o século dezoito. Vão até o tempo dos puritanos, e para mais atrás ainda, à Reforma Protestante. Retrocedam mais ainda, e estudem a história daqueles grupos de evangélicos que viveram no continente europeu na época em que o catolicismo romano detinha o poder supremo. Vão direto aos Pais Primitivos que defendiam idéias evangélicas. É uma história que pode ser rastreada ininterruptamente até a própria Igreja Primitiva. Esse estudo é de importância vital, para que não venhamos a supor, em função de uma falsa visão da história, que a obra evangelística só pode ser feita de uma certa maneira e com a aplicação e o uso de certos métodos.

Eu gostaria de recomendar a vocês um bem completo estudo daquele teólogo americano, Jonathan Edwards. Foi uma grande revelação para mim, descobrir que um homem que pregava como ele podia ser honrado por Deus como o foi, e Ter tão grandes resultados para o seu ministério como teve. Ele era um grande erudito e filósofo, que redigia cada palavra dos seus sermões. Tinha vista fraca, e costumava ficar no púlpito com o seu manuscrito numa das mãos e uma vela na outra e, conforme lia o seu sermão, homens não somente foram convertidos, mas alguns deles literalmente caíam no chão sob a convicção de pecado sob o poder do Espírito. Quando pensamos na obra evangelística em termos de evangelização popular dos 100 anos recém-passados, acho que poderíamos ser tentados a dizer que um homem que pregasse daquela maneira não teria a menor possibilidade de obter conversões . todavia, ele foi um homem usado por Deus no Grande Despertamento ocorrido no século 18. Assim, eu os concito a se entregarem completamente ao estudo da história da Igreja e das coisas grandiosas que Deus fez em várias eras e períodos. Aí estão, pois, as duas linhas mestras que seguiremos na abordagem deste assunto – o estudo da Bíblia e um estudo da Igreja Cristã.

Os Princípios Fundamentais

O objetivo supremo desta obra é glorificar a Deus. Esse é o ponto central. Esse ;é o objetivo que deve dominar e sobrepujar todos os demais. O primeiro objetivo da pregação do evangelho não é salvar almas; É GLORIFICAR A DEUS. Não se tolerará que nenhuma outra coisa, por melhor que seja nem por mais nobre, usurpe esse primeiro lugar.

O único poder que realmente pode realizar esta obra é o Espírito Santo. Quaisquer que sejam os dons naturais que um homem possua , o que quer que um homem seja capaz de fazer como resultado das suas propensões naturais, o trabalho de apresentar o evangelho e de levar àquele supremo objetivo de glorificar a Deus na salvação dos homem, é um trabalho que só pode ser feito pelo Espírito Santo. Vocês vêem isso no próprio Novo Testamento. Sem o Espírito, é-nos dito, não podemos fazer nada. (Desde os tempos bíblicos até a história da igreja nos mostra que somente através da obra do Espírito Santo é que o evangelho foi pregado com poder e autoridade).

O único e exclusivo meio pela qual o Espírito Santo opera é a Palavra de Deus. Isso é algo que se pode provar facilmente. Vejam o sermão que foi pregado por Pedro no dia de Pentecoste. O que ele fez realmente foi expor as Escrituras. Ele não se levantou para relatar as suas experiências pessoais. Ele deu a conhecer as Escrituras; esse foi sempre o seu método. E esse é também o método característico de Paulo, como se vê em Atos 17:2: “disputou com eles sobre as Escrituras”. No trato com o carcereiro de Filipos, vocês vêem que ele pregou-lhe Jesus Cristo e a Palavra do Senhor. Vocês recordarão as suas palavras na Primeira Epístola a Timóteo, onde ele diz que a vontade de Deus ;e que todos os homem sejam salvos e sejam levados ao conhecimento da verdade (1 Tm.2:4). O meio usado pelo Espírito Santo é a verdade.

A verdadeira motivação para a evangelização deve provir da apreensão destes princípios. E, portanto, de um zelo pela honra e glória de Deus e de um amor pelas almas dos homens.

Há um constante perigo de erro e de =heresia, mesmo entre os mais sinceros, e também o perigo de um falso zelo e do emprego de métodos antibíblicos. Não há nada sobre o que somos exortados mais vezes no Novo Testamento do que sobre a necessidade de constante auto-exame e de retorno às Escrituras.

Aí, penso eu, vocês têm cinco princípios fundamentais claramente ensinados na Palavra de Deus e confirmados profusamente na subsequente história da Igreja Cristã.

A Aplicação dos Princípios

Isto me leva à Segunda divisão principal do nosso assunto, que é a aplicação desses princípios à obra concreta da apresentação do evangelho. Este é um assunto que se divide naturalmente em duas partes principais. Há primeiro a obra de evangelização, e depois a obra de edificação e instrução na justiça.

A Evangelização e os Seus Perigos

O primeiro é o de exaltar a decisão como tal, e este é um perigo especialmente quando vocês estão trabalhando com jovens (…). Mostra-se às vezes no uso da música. (…) Fiam-se na música e no cântico de coros para produzirem o efeito desejado e de ocasionarem decisão. (…) Há os que tem o Dom de contar histórias de maneira comovente e eficaz. Outros parecem por a sua confiança no encanto pessoal do orador.(…)

O segundo perigo é que as pessoas podem chegar a uma decisão resultante de um falso motivo. Às vezes as pessoas se decidem por Cristo simplesmente porque estão desejosas de ter a experiência que outros tiveram (…) Ou pode ser o desejo de Ter este maravilhoso tipo de vida do qual lhe falaram. O evangelho de Jesus Cristo dá-nos uma vida da maravilhosa, e louvamos a Deus por isso, mas a verdadeira razão para nos tornarmos cristãos não é que tenhamos uma vida maravilhosa; é, antes, que estejamos em correta relação com Deus. Às vezes Cristo é apresentado como herói. (…) poderá ser que (…) se unam a nossa classe bíblica ou à nossa Igreja simplesmente porque a mensagem atraiu o seu instinto heróico. (…)

E, a seguir, o último perigo que desejo acentuar sob o presente título, é a terrível falácia de apresentar o evangelho em termos de “Cristo precisa de você”, e de dar a impressão de que, se o rapaz não se decide por Cristo, é um mal sujeito. (…)

Devemos apresentar a verdade; esta terá que ser uma exposição positiva do ensino da Palavra de Deus. Primeiro e acima de tudo, devemos mostrar aos homens a condição em que se acham por natureza, à vista de Deus. Devemos levá-los a ver que, independentemente do que façamos e do que tenhamos feito, todos nós nascemos com “filhos da ira”; nascemos num estado de condenação, culpados aos olhos de Deus; fomos concebidos em pecado e fomos formados em iniquidade. Isso vem em primeiro lugar.

Feito isso, devemos prosseguir e demonstrar a enormidade do pecado. Não significa apenas que devemos mostrar a iniquidade de certos pecados. Não há nada que seja tão vital como a distinção entre pecado e pecados. (…) Depois devemos conclamar os nossos ouvintes a confessarem e a reconhecerem os seus pecados diante de Deus e dos homens. E então devemos ir adiante e apresentar a gloriosa e estupenda oferta de salvação gratuita , que se acha unicamente em Jesus Cristo, e Este crucificado. A única decisão, que é do mais diminuto valor, é a que se baseia na compreensão dessa verdade. Podemos fazer os homens se decidirem como resultado dos nossos cânticos, como resultado do encanto da nossa personalidade, mas o nosso dever não conseguir seguidores pessoais. O nosso dever não é simplesmente aumentar o tamanho das nossas classes de estudo da Bíblia ou das organizações e igrejas. O nosso dever é reconciliar almas com Deus. Repito que não há nenhum valor numa decisão que não esteja baseada na aceitação da verdade.

A Edificação

A minha Segunda subdivisão relacionada com a apresentação do evangelho é a obra de edificação. Este é um grande tema, e tudo o que eu posso fazer é simplesmente lançar certos princípios. Em nenhuma oura parte o perigo de um falso método é mais real do que esta particular questão de edificação, como o que me refiro ao ensino concernente à santificação e à santidade. Não se pode ler o Novo Testamento sem perceber logo Que a Igreja Primitiva reagia contra problemas, perigos e heresias incipientes que a assediavam. Havia os que diziam, por exemplo: “Continuemos no pecado para que a graça seja mais abundante”. Havia os que diziam que, contanto que você fosse cristão, não importava o que você tinha feito, que, contanto que você estivesse certo em suas crenças, o seu corpo não importava e você podia pecar o quanto quisesse. Isto é conhecido como antinomianismo. Havia os que se diziam sem pecados. Havia os que partiam em busca de “conhecimento”, que alegavam Ter alguma experiência esotérica especial que os outros , cristãos inferiores, ignoravam. (…)

Se posso fazer um sumário de todos esses perigos, é o perigo de isolar um texto ou uma idéia e construir um sistema em torno dele, em vez de comparar Escritura com Escritura. Isso é procurar atalho no mundo espiritual. As pessoas tentam chegar à santificação com um só movimento, e assim se privam do processo descrito no Novo Testamento. A maneira de evitar esse perigo é estudar o Novo Testamento, especialmente as Epístolas. Devemos ter o cuidado de não tomar um incidente dos Evangelhos e tecer uma teoria em torno dele(…) Devemos compreender que o nosso padrão nesta questão particular(santidade/santificação) acha-se nas Epístolas.(…)

Conclusão

Permitam-me resumir tudo o que eu venho tentando dizer, da maneira seguinte: se vocês quiserem ser competentes ministros do evangelho, se quiserem apresentar a verdade de modo certo e verdadeiro, terão que ser estudantes assíduos da Palavra de Deus, terão de lê-la sem cessar. Terão que ler todos os bons livros que os ajudem a entendê-la e os melhores comentários da Bíblia que puderem encontrar. Terão que ler o que denomino teologia bíblica, a explicação das grandes doutrinas do Novo Testamento, para que venham a entendê-las cada vez mais claramente e, daí, sejam capazes de apresentá-las com clareza cada vez maior aos que venham ouvi-los. A obra do ministério não consiste meramente em oferecer a nossa experiência pessoal, ou em falar das nossa vidas ou das vidas de outros, mas sim, em apresentar a verdade de Deus de maneira tão simples e clara quanto possível. E o jeito de fazer isso é estudar a Palavra e toda e qualquer coisa que nos ajude nessa tarefa suprema.

Talvez vocês me perguntem: quem é suficiente para estas coisas? Temos outras coisas que fazer; somos homens ocupados. Como poderemos fazer o que você nos pede que façamos? Minha resposta é que nenhum de nós é suficiente para estas coisas, todavia Deus pode capacitar-nos para fazê-las, se de fato estamos desejosos de servi-lO. Não me impressionam muito esses grandes argumentos de que vocês são homens ocupados, de que vocês têm que fazer muitas coisas no mundo e, por isso, não têm tempo de ler estes livros sobre a Bíblia e de estudar teologia, e por esta boa razão: alguns dos melhores teólogos que conheci, alguns dos mais santos, alguns dos homens mais culto, tiveram que trabalhar mais duro que qualquer de vocês e, ao mesmo tempo, foram-lhes negadas as vantagens que vocês gozam. “Querer é poder”. Se eu e vocês estivermos preocupados com as almas perdidas, jamais deveremos alegar que não temos tempo para preparar-nos para este grande ministério; temos que fabricar tempo. Temos que aparelhar-nos para a tarefa, consciente da séria e Terrível responsabilidade da obra. Temos que estudar, trabalhar, suar e orar para podermos conhecer a verdade cada vez mais e cada vez mais perfeitamente. Temos que pôr em prática em nossas vidas as palavras que se acham em 1 Tm.4:12-16. Conceda-nos Deus a graça e o poder para fazê-lo, para a honra e a glória do Seu santo nome.